Qual a seleção nacional que mais reúne brasileiros sem contar a própria Seleção Brasileira? Quase que automaticamente, lembramos de Espanha (Diego Costa) e Itália (Éder e Thiago Motta). Os "espíritos mais alternativos" citariam o Catar, que tem Luiz Carlos e o “famoso” Rodrigo Tabata. Mas não, nenhuma delas bate uma região administrativa da China no leste da Ásia.
Hong Kong contou com quatro jogadores brasileiros na convocação para amistosos na data FIFA do meio de outubro. Foram eles Roberto, 33 anos, Hélio, 30, Sandro, 29, e Itaparica, 36. Os três primeiros estiveram ainda na seletiva da Copa do Leste da Ásia, neste começo de mês. Além deles, outro nome comumente convocado é o de Paulinho Piracicaba, de 33 anos, que ficou de fora nas convocações recentes.
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Sandro (21) marcando Rodrigo Tabata, do Catar, em duelo brasileiro |
A seleção nacional não tem um registro dos mais invejáveis no futebol. Seu ápice em termos de resultados veio antes mesmo de o mundo conhecer Pelé, com o terceiro lugar na Copa da Ásia de 1956. Vagas em Copas do Mundo nunca vieram. Ranking da FIFA? O melhor índice veio há 20 anos, com o 90º lugar - distante do atual 142º posto.
Por essas e outras que a federação local resolveu apostar no talento estrangeiro. Além dos brasileiros, as últimas convocações tiveram atletas nascidos em Nigéria, Gana e Inglaterra. Mas não pense que jogar na equipe significa moleza: “A gente começa com responsabilidade assim que pega o passaporte. O treinador (o sul-coreano Kim Pan-Gon) fala que nós, brasileiros, temos de ser melhores do que os chineses", conta Hélio.
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Sandro tem dois gols com a camisa de Hong Kong |
Contudo, ir para um local tão diferente do Brasil tem seu preço, como encarar algumas comidas pouco convencionais por aqui. É o que diz Hélio, que chegou a Hong Kong sem muita noção de inglês e, claro, tampouco chinês. “Fui jantar com o time e o técnico falou para comer algo lá do cardápio. Perguntei o que era, mas ele disse para comer antes. Mastigava e nada de dissolver, parecia borracha. ‘Pô, você nunca comeu? É estômago de porco!’, foi a resposta dele”, lembra, aos risos.
Nos últimos anos, o investimento da liga nacional de Hong Kong aumentou, mas ainda está longe de chegar a ser um campeonato visado. São poucas equipes, a maioria com estruturas modestas e pouco público nas arquibancadas. Mesmo assim, aos poucos, os resultados do time nacional apontam evolução: foram quatro vitórias em oito rodadas nas eliminatórias para a Copa, além de dois bons empates com a China - mas que não adiantaram para o time chegar à fase final da disputa.
O primeiro dos objetivos em curto prazo não foi atingido. Hong Kong venceu Guam e Taiwan, mas perdeu a vaga na Copa do Leste da Ásia para a Coreia do Norte. O foco agora é chegar na Copa da Ásia de 2019, tentando quebrar uma ausência que já vem desde 1968. Para Hélio, “o time está sendo mais falado na Ásia e as pessoas aqui dizem que nós, estrangeiros, temos de fazer a diferença”. Repetir o terceiro lugar de 60 anos atrás não parece fácil, mas porque não sonhar? O toque da velha e boa habilidade brasileira está aí para tentar o improvável.
Imagens: FIFA
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