No fim do ano passado, o nosso leitor Raúl Pereira Chiaradia, ao lado do irmão, partiu em uma viagem para conhecer o leste europeu, e o futebol foi parte integrante desta Eurotrip. Após a primeira parada na República Tcheca, seguida depois pela Turquia, agora ele nos conta como foi conhecer um pouquinho mais do futebol do mais novo integrante da UEFA, o Kosovo, e também a Macedônia.
Nosso plano inicial de viagem era passar dois a três dias no Kosovo (fazendo um bate e volta em Skopje, na Macedônia) e dali seguir para a Albânia, nosso maior desejo nos Bálcãs. Porém, com o hostel reservado ainda aqui no Brasil, chegamos lá e surpresa: o hostel já não estava em funcionamento, era apenas um apartamento todo bagunçado. Por sorte, quando chegamos, os donos (um português e uma kosovar, já estavam de malas prontas pra ir para Skopje) nos explicaram a situação, contaram que o hostel estava desativado para reformas há alguns meses, mas o site que fizemos a reserva, Tripadvisor, ainda não tinha tirado a possibilidade de locação.
Para nossa sorte, os dois foram super atenciosos, nos deram várias dicas do que fazer em Pristina e falaram que a melhor coisa a fazermos era conhecer o centro histórico ali e ao invés de passar três dias no país, irmos para Skopje. Não tivemos outra opção: com toda mochila da viagem nas costas, fomos conhecer a capital kosovar para partir para Skopje no fim da tarde. Apesar de tudo que envolve o país, queríamos primeiramente duas coisas, conhecer o estádio nacional e conseguir nossa camisa da seleção. Mas era domingo, e todas as lojas da cidade estavam fechadas.
Logo ao lado da praça central está localizado o “Pristina City Stadium”, que está em total estado de reconstrução, desde 2014. Um local que abrigou muita gente no período da guerra e necessita realmente sair do zero para o Kosovo ter um estádio nos moldes mínimos exigidos pela UEFA. Não é daqueles estádios imponentes - sua capacidade antes do início da reconstrução era de 16 mil pessoas, porém já chegou a abrigar 30 mil num show do rapper 50 Cent, em 2007.
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As camisas vendidas no centro de Pristina mostram o orgulho albanês e kosovar |
Estávamos ali e até tínhamos uma visão boa do local, mas não adianta só ver de longe, e fomos até um dos portões onde o pessoal estava trabalhando, batemos, chamamos alguns trabalhadores, explicamos a situação toda e mais uma vez ela nos salvou: a bandeira brasileira. Não sabemos se funciona dessa maneira em todo mundo ou se realmente tivemos sorte, mas a bandeira era a última coisa que íamos desfazer caso desse alguma coisa errada na viagem!
Ali dentro era um monte de entulho e um canteiro de obras, mas pisar do lado de dentro e saber de tudo que já aconteceu ali, na época da guerra, e o que ainda vai acontecer, no futebol, deixou-nos completamente realizados.
Foi na rodoviária, prestes a ir para Skopje, que encontramos maiores referências futebolísticas. Um escudo do KF Pristina na parede já mostrava como era o ambiente, algumas TVs passando campeonatos Italiano, Inglês e Espanhol ao vivo e muita, muita aposta (confesso que não estava acostumado com isso, mas saímos dos Bálcãs com a certeza que a aposta é o esporte principal da região). Conversamos com algumas pessoas, falamos obviamente de futebol e eles se espantavam em ver dois brasileiros que conheciam o Pristina, Feronikeli, Trepça... Mas todos receptivos e evidenciando que o futebol ali tem um valor muito grande pra população.
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A estátua de Alexandre, o Grande, na praça central de Skopje |
O primeiro dia reservamos mais para conhecer as belezas a cidade. No segundo, com um pouco menos de névoa e frio, fomos em direção à Arena Nacional, casa do Vardar, Rabotinicki e claro, da seleção. É um estádio muito lindo visto por cima, às margens do Rio Vardar e que infelizmente não conseguimos entrar, porém tivemos uma experiência bem legal também nesse local.
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Ao fundo a Arena Phillip II, maior estádio do país |
A melhor vista do estádio que tivemos foi na praça do museu de arte contemporânea da Macedônia, logo ao lado da fortaleza e mais próximo a um bairro de imigrantes, muitos deles paquistaneses. Descemos o morro e fomos em direção ao estádio, passando pela bela margem do Rio que corta a cidade (como estávamos no inverno, não chegava a ser uma paisagem de encher os olhos, mas no verão ou primavera deve ser bem bonito por ali).
Depois do passeio pelas redondezas do estádio, fomos em busca das camisas mais uma vez, já em direção à loja do Vardar. Lá encontramos muita coisa relacionada ao time de Handball e poucos artigos de futebol. Já se passavam dois dias e ainda não tínhamos nem pistas de onde encontrar a camisa da seleção, ninguém sabia, fomos a dois shopping centers e nenhuma informação.
Nessa noite, ao chegarmos no hostel já pedimos para o recepcionista nos ajudar e ligar na federação de futebol da Macedônia para ver como e onde poderia conseguir a famigerada camisa. Foi aí que realmente começou nossa maior saga pra conseguir uma camisa de futebol pra coleção. A mulher da federação foi gentil e disse que só era possível comprar qualquer artigo relacionado à seleção pelo site (Fan Shop Online) e que não existia venda física desses produtos no país - imagina você rodar São Paulo e não encontrar uma camisa da seleção? Enfim, acordamos cedo no dia seguinte, pegamos ônibus distinto e, bem distante do centro, chegamos na Federação de Futebol da Macedônia, um local bem bacana, grande, com campos de treinamento renovados e um prédio onde se concentra tudo sobre o futebol no país.
Lá falamos com a responsável pela Fan Shop, e descobrirmos que não existia nenhuma maneira de se comprar os materiais ali usando dinheiro. Mesmo ela separando tudo que pedimos, o sistema funcionava somente com pedidos feito via internet e com o pagamento realizado pelo site. Tivemos de fazer várias ligações pro Brasil até conseguir uma senha pra poder comprar pela internet em outro país. Depois de quase uma hora no vaivém ali, enfim conseguimos a talvez mais difícil de todas camisas da coleção. Compra feita, ainda tivemos tempo pra dar uma volta pelo centro de treinamento e ver os campos e a estrutura de perto. Nossa próxima parada era o encontro com uma amiga que conhecemos pelo Facebook, macedônia de nascimento, mas tal qual a gente, fanática pela seleção albanesa.
Fatime Ajrullai mora em Tetovo, cidade há cerca de três horas de Skopje, e casa do Skhendija, segundo maior clube do país e onde jogam dois brasileiros, Victor Juffo e Stenio Junior. Tínhamos combinado esse encontro quando saímos do Brasil, e mesmo com um pequeno atraso devido aos contratempos na federação, pudemos conversar bastante durante a tarde, contar algumas histórias do futebol daqui, da nossa cultura também, bem como ela nos contou várias passagens com a seleção albanesa (ela é amiga de infância de Andi Lila, meia da seleção) e sempre estava nos treinamentos e jogos do time comandado por Giovani De Biasi.
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Fachada da federação de futebol da Macedônia |
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Encontro com Fatime num shopping em Skopje |
À noite partiríamos rumo a cereja do bolo nos Balcãs, Albânia! Eram oito horas dentro de um ônibus totalmente antiquado, então era melhor voltar pro hostel e se preparar pra longa jornada.
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