Gibraltar, a seleção sem jogos oficiais até 2018, sonha alto


Dez jogos, dez derrotas, dois gols marcados, 56 sofridos, três técnicos. A primeira campanha de Gibraltar em uma eliminatória de Eurocopa foi cheia de percalços, mas há o que celebrar e motivos para esperar uma melhora nas próximas tentativas. Embora haja um problema pela frente. O pequeno território britânico ultramarino ainda não foi aceito como membro da FIFA. O que suscita uma questão importante: com o fim das eliminatórias, o próximo jogo oficial da seleção nacional será apenas no segundo semestre de 2018.

Lacuna de partidas que deve ser quebrada apenas com esporádicos amistosos em datas FIFA, algo que, sem dúvida, diminuirá o ritmo de desenvolvimento organizado pela federação de futebol de Gibraltar. Dan Griffin, 21 anos, editor do Football Gibraltar - site que, como o nome já deixa claro, é voltado para o esporte na nação de 32 mil habitantes -, ressalta a dificuldade burocrática no processo de filiação à FIFA, que está em curso na Corte Arbitral do Esporte. “São muitas as questões envolvidas no momento. O caso de Gibraltar pode demorar um pouco mais do que nós esperamos. Não ter jogos oficiais vai prejudicar a equipe, já que apenas amistosos não vão auxiliar o desenvolvimento de jogadores para o nível necessário para uma competição da UEFA”, comenta Griffin.

O próprio tamanho de Gibraltar é um problema, já que são menos de sete mil quilômetros quadrados de área. Baseando-se em Islândia e Ilhas Faroe, que desenvolveram uma infraestrutura para a prática do futebol em escolas e centros esportivos, Gibraltar tenta algo do tipo, embora a política ainda seja um entrave. Novembro é mês de eleição no território, e o desenvolvimento esportivo, por incrível que pareça, está sendo deixado de lado.

Gotze em ação contra Gibraltar nas eliminatórias
Com as coisas estagnadas fora de campo, o reflexo dentro dele é inevitável. A seleção já não entra mais em campo em 2015, e na verdade ainda não tem calendário definido para o começo de 2016. Resta a reflexão sobre a campanha para a Euro, que terminou com uma defesa pior até mesmo que San Marino. Mas com bons momentos para se recordar: “A campanha foi uma grande curva de aprendizado, com alguns momentos emocionantes, como os gols contra Escócia e Polônia, bem como a admirável atuação fora de casa contra a Alemanha. Houve, claro, momentos mais decepcionantes, como levar 7 a 0 da Irlanda”, destaca o editor. Por sinal, um dos gols foi histórico, já que transformou Ryan Gosling no principal goleador da seleção hoje. Ele tem dois gols.

Sim, dois gols, o que dá a Gibraltar um histórico melhor do que as campanhas de estreia de San Marino (um gol para a Euro 1992) e Liechtenstein (um gol para a Euro 1996), por exemplo. Membro com menor população da UEFA, filiado em 2013, a seleção teve três técnicos (Allen Bula, David Wilson e agora Jeff Wood), vários jogadores inexperientes e a grande maioria atuando no futebol local, que carece até mesmo de estádios. Sem nenhum em condições de receber jogos deste porte, a seleção mandou suas partidas em Faro, Portugal.

Gibraltar, com uma seleção de base, contra Ynis Môn, nos Island Games 2015
Fazer dois gols pode não parecer muita coisa, mas vamos tentar contextualizar. Como território ultramarino, Gibraltar costuma jogar os Island Games. Ou seja, a seleção estava acostumada a enfrentar Ilhas Aland, Ilha de Wight, Guernsey ou Jersey, por exemplo. Na primeira campanha para Euro, encarou logo a campeã mundial Alemanha, de quem perdeu por “apenas” 4 a 0 em Nuremberg. “Esperamos, com o passar do tempo, ter mais estabilidade. A campanha foi positiva, pois finalmente fomos autorizados a competir no mesmo cenário de grandes nações, como a Alemanha”, celebra Griffin.

Lee Casciaro (7) marcou o primeiro gol da seleção em eliminatórias, contra a Escócia
Além de alguns bons momentos na seleção, o futebol de clubes também merece algum destaque. O Lincoln Red Imps, clube 21 vezes campeão nacional, sendo campeão de todas as edições desde 2003, pela primeira vez superou um playoff na Liga dos Campeões. O time eliminiou o Santa Coloma, de Andorra, na fase prévia, antes de cair para o Midtjylland (Dinamarca), que mais tarde derrotaria o Southampton. Conforme Griffin, o Lincoln terá mais concorrência agora, já que outros times gibraltinos estão recebendo um maior aporte financeiro.

O Lincoln Red Imps é a base da seleção nacional. Dos 23 convocados para as rodadas finais da eliminatória, 11 são do Lincoln. Falta experiência internacional, o que se ganha justamente com jogos valendo pontos como na caminhada para a Euro. “Esta é a vantagem de enfrentar as principais nações do continente, o que permite que os jogadores adquiram experiência. Nós podemos ter mais disso com mais jogadores dando o salto para fora do futebol local, indo para Espanha e Inglaterra, ou mesmo outros países”, destaca Griffin, citando ainda o exemplo de Liam Walker, que já atuou em Israel.

Lincoln Red Imps fez história para Gibraltar na UCL
 
Com a Liga das Nações da UEFA começando em 2018 (leia aqui do que se trata), não é utopia imaginar que os gibraltinos vençam jogos oficiais daqui alguns anos. Evitar o último lugar em eliminatórias? Difícil estimar até para quem acompanha de perto. “Poderia acontecer em cinco anos, poderia acontecer em 50. Uma vez que conseguirmos começar no pote 5 (ou seja, um acima do atual, que contém as seleções de pior ranking na Europa), podemos começar a pensar em evitar a lanterna”.

As ambições gibraltinas são, como não poderiam deixar de ser, do tamanho da nação. Por enquanto, pequenas. Só que o simples fato de filiar-se à UEFA aumentou o interesse das pessoas pelo futebol local, que, se não tem como competir com grandes clubes ingleses, ao menos já recebe médias maiores de público em comparação com os anos anteriores. Com o interesse crescendo e tendo uma infraestrutura que acompanhe este crescimento, Gibraltar sonha alto. Um alto de seu tamanho, claro.

Fotos: UEFA, Vavel e Gibfootballtalk
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