A modesta seleção de Gibraltar, 175ª colocada no ranking da FIFA divulgado no meio de outubro, conquistou duas vitórias na última data reservada para jogos internacionais. Triunfou sobre a Armênia, na primeira vitória oficial como visitante em sua história, e depois bateu Liechtenstein, também primeira vez que venceu um jogo oficial em seu território. Os dois confrontos foram válidos pela divisão D da Liga das Nações da UEFA, e um jogador marcou em ambos os duelos: Joseph Chipolina, que além de ser zagueiro é também carcereiro.
Chipolina, 30 anos, concilia a carreira com a função de guarda prisional. E foi ele quem teve a incumbência de cobrar um pênalti aos cinco minutos do segundo tempo, quando o placar ainda estava zerado contra os armênios. O jogador conversou com o jornal português DN, e reproduzimos aqui alguns dos trechos mais legais desse papo.
"Sabia que era um momento importante, afinal nunca a seleção de Gibraltar tinha estado na frente do placar. Sabem que tenho sangue-frio e que estou acostumado a cobrar pênaltis, por isso fui o escolhido. Era apenas mais um pênalti", assegurou Chipolina, que tem o irmão, Roy, jogando também na seleção gibraltina.
Joseph foi profissional única e exclusivamente dedicado ao futebol, até 2012. Fez época no Linense, da terceira divisão espanhola, por quem entrou em campo mais de 100 vezes. Mas, há seis anos, a decisão foi por se dividir: "Quando tive oportunidade de ter um bom trabalho, deixei o profissionalismo. O problema da crise econômica fez que optasse por outra via, pois tive de pensar no futuro quando surgiu este trabalho para o governo, que me dá maior estabilidade", revelou. "Eu trabalho por turnos. Quando trabalho à noite, treino de manhã, e quando estou de serviço de dia treino ao final da tarde, depois do trabalho", contou, acrescentando que faz quatro treinos por semana pelo Lincoln Red Imps, principal time da nação.
O fato de a seleção toda possuir jogadores que não se dedicam exclusivamente ao futebol é, claro, um complicador a mais para Gibraltar. Mas, nesta Data FIFA, eles venceram duas seleções profissionais: a Armênia, de maior destaque, e Liechtenstein - pela primeira vez, os gibraltinos venceram dois jogos oficiais seguidos. "Temos uma seleção com jovens estudantes e jogadores com outras profissões, e é bem difícil conciliar as nossas atividades com a família, por isso esta vitória ainda tem mais valor", falou Chipolina, ainda na Armênia.
Após o gol de Chipolina, os armênios foram ainda mais com tudo para cima, mas esbarraram numa verdadeira barreira dos visitantes. Ao final, a Armênia deu 34 finalizações, nove delas no gol, teve 72% de posse de bola e cobrou 11 escanteios. Mas gol mesmo... Nada. "Não sou um herói, todos os jogadores foram heróis. Defendemos como uns leões. Lutamos mais do que tínhamos lutado em todos os jogos que fizemos", declarou o autor do gol.
— Gibraltar FA (@GibraltarFA) 13 de outubro de 2018Chipolina também contou sobre o que a vitória representou na volta para casa, antes do duelo com o principado. "Vínhamos de derrota atrás de derrota, pelo que esta vitória representa uma grande injeção de confiança para todos os jogadores e para os técnicos. Foi uma alegria para todos em Gibraltar", afirmou, contando depois que, quando o avião da delegação pousou, havia muitas pessoas e familiares à espera para parabenizar o time.
Gibraltar tentava ser membro da UEFA desde 1999. O território de 33 mil habitantes, porém, só foi aceito em 2013, e passou a disputar as eliminatórias para a Eurocopa. Em 2016, veio a admissão à FIFA, e a participação, pela primeira vez, nas eliminatórias para o Mundial. Até hoje, já foram disputados, desde a filiação à UEFA, 34 jogos, com quatro vitórias, três empates e 27 derrotas. Faltam dois jogos para o fim da disputa na Liga das Nações, e embora seja difícil (recebem a Armênia e visitam a Macedônia), os gibraltinos ainda podem subir de divisão.
GOALLLLLLLLL this time its Jospeh Chipolina with a brilliant corner taken by Liam Walker pic.twitter.com/NlLdJZdrjt— GBC Sports (@GBC_Sports) 16 de outubro de 2018
Ainda antes de vencer Liechtenstein - foi 2 a 1, com os visitantes saindo na frente, e o gol de empate veio com Chipolina, de cabeça -, o defensor encerrou afirmando que, apesar de pequeno, o território sonha grande, e uma vitória em confrontos oficiais era o que estava faltando. "É a primeira página da história que vamos escrever. É um empurrão para aquilo que podemos alcançar", finalizou.
Imagens: footballgibraltar.com e Twitter/GibraltarFA
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