Uma viagem pelo futebol do leste europeu - parte 1


O nosso leitor Raul Pereira Chiaradia realizou uma viagem bem interessante pela Europa, conhecendo vários estádios, indo a jogos, visitando pubs... Basicamente aquilo que todo apaixonado por futebol sonha fazer um dia. Ele nos apresentou um relato bem detalhado de sua viagem e apresentamos pra vocês agora. Confiram a primeira parte, com o relato sobre o tour por Praga e Pilsen, na República Tcheca.

República Tcheca
Desembarcamos em Praga no dia 7 de dezembro, três dias após o início da pausa de inverno do Campeonato Tcheco. Porém, tínhamos em mente que ainda teria jogo por ali naquela semana, da Liga Europa, então por isso escolhemos essa data. Ao chegarmos em Praga e logo irmos para o centro da cidade, obviamente estávamos procurando toda e qualquer referência aos principais times da cidade, Sparta e Slavia, mas sem esquecer dos menores, como Dukla, Viktoria Zizkov, dentre outros. 

Pub "inglês" em Praga
Se na quinta-feira tinha Europa League, logo, na quarta teria Champions League, e um jogão entre Real Madrid x Borussia Dortmund. Achamos um pub que era exatamente o que estávamos procurando, um típico pub inglês em Praga, subterrâneo, com referências aos maiores times da terra da rainha, cerveja, hambúrgueres e a figurinha de um jogador que encontramos em muitos lugares pela cidade, Francis Benali, que aparecia com a camisa de vários times em vários locais. Benali foi um zagueiro que fez carreira no Southampton, jogando de 1988 a 2004. 

Estádio Ďolíček, do Bohemians
O segundo dia seria longo, programamos de ir conhecer alguns estádios pela manhã e a tarde ir pra Pilsen, realizar o passeio na famosa cervejaria e assistir Viktoria Plzen x Austria Viena, pela última rodada da fase de grupos da Europa League.

Acordamos cedo e já embarcamos para região de Bohemians, onde fica o simpático estádio Ďolíček, do Bohemians. Estádio bem simples, aconchegante, com um gramado muito bem cuidado e toda simpatia do mascote do time, o canguru. Parecia uma imensidão verde, inclusive havia uma homenagem à Chapecoense perto da linha de fundo de um dos gols. Podia não haver jogo, nem ninguém no gramado, mas o respeito e o sentimento de pesar permanecia ali, assim como em todo lugar do mundo naquela época.

Bom, nós, como bons brasileiros, fomos entrando aos pouquinhos no estádio, achando um portão aberto, outra porta aberta, até chegar no corredor que dava acesso às arquibancadas, e ali me senti o máximo (meu último save no FM tinha sido exatamente com o Bohemians, pode parecer besteira, mas eu estava acostumado a ver o estádio quase todo dia no jogo, e estar ali, por isso e pela simpatia do time, já era algo sensacional pra gente). Muitas fotos e um passeio na lojinha do time que fica embaixo das arquibancadas pra garantir a camisa do Alviverde de Praga, nosso primeiro estádio estava concluído com sucesso. 

McDonalds e outros comércios no entorno da Eden Arena
Dali mesmo partimos até a estação Slavia, um bairro completamente oposto ao que estávamos, Lojas enormes, shopping, digamos que um bairro mais sofisticado que a região do Bohemians, e ali fica a Eden Arena, casa do Slavia Praga e também da seleção tcheca, que costuma alternar também com a Generali Arena, estádio do Sparta. A Arena é tão suntuosa que dentro dela há um hotel, um McDonalds, um banco, a loja oficial do Slavia, tudo do lado de fora também. 

À tarde, pegamos o trem e fomos pra Pilsen, em uma viagem em torno de uma hora e meia. Chegamos por volta das 15h, saímos da estação e fomos a pé mesmo até o estádio para comprarmos os ingressos. Ao chegar na bilheteria a primeira surpresa: não havia ingresso disponível, somente para a torcida do Austria Viena (e ainda sim com muita má vontade da mulher da bilheteria). Mas cambistas existem em qualquer parte do mundo, então logo um já nos ofereceu os bilhetes no local do estádio que pretendíamos inicialmente por um preço pouco menor que o da bilheteria, e mesmo com um receio, compramos. 

Chegada em Pilsen pela estação de trem
Com os ingressos em mãos, pudemos ir com calma na lojinha do Viktoria, ali no estádio mesmo, compramos a camisa do clube, vimos algumas coisas e fomos para a nossa primeira parada na cidade, a cervejaria Urquell. Encontramos a torcida do Austria Viena, e conversamos com alguns torcedores entre uma cerveja e outra. Eles contaram que o jogador favorito deles era, inclusive, brasileiro: Lucas Venuto, que começou a carreira no Red Bull Brasil.

Chopp vai e vem, conversa, risadas com o pessoal do Austria e fomos novamente pra Doosan Arena, já para entrar no estádio e esperar o início do jogo. Na hora ficamos arrependidos de não ter comprado os ingressos para ficar na torcida visitante, já que estávamos “em casa” com eles e pudemos perceber depois que eles preparavam uma festa bem legal, com pequeno mosaico, bandeiras e muita cantoria, mas depois iriamos ser recompensados. Entramos tranquilos, muitas fotos, os dois times em campo fazendo aquecimento e até fomos fotografados pelo pessoal oficial do jogo, por estarmos com a bandeira do Brasil ali.

Torcida do Austria Viena "se preparando" pro jogo decisivo
Com o início do jogo, percebemos que não era só a gente que gostaria de ter ficado na torcida do Austria: quando o time abriu o placar, muita gente acima de nós vibrou e festejou o tento. Como estávamos com a bandeira esticada ali, no centro do gramado, logo todos jogadores que passavam naquela parte do campo perceberam, e foi o caso do outro brasileiro do Austria, Felipe Pires (emprestado pelo Hoffenheim). A cada jogada dele por ali, a gente gritava com ele e ele interagia e falava conosco. O Viktoria, mesmo eliminado, buscou a virada e ganhou por 3 a 2, tirando os austríacos do torneio.

A maior pergunta que fazíamos quando saímos de Praga era... Como voltaríamos pra lá no dia? O último trem passava na estação por volta das 21h10 e o jogo acabava 21h. Saímos correndo do estádio em direção a estação, e quando digo correndo, foi dessa maneira mesmo, com a mochila um pouco aberta e alguns pertences ficando pelo caminho. O trem, que vinha de Munique, atrasou quase meia hora (algo muito raro de acontecer por lá), e conseguimos voltar pra Praga tranquilamente e com uma experiência incrível daquele dia.

Momentos antes de a bola rolar em Pilsen

No terceiro dia, separamos pra conhecer alguns pontos turísticos da cidade, mas de manhã fomos à região da Generali Arena, estádio do maior clube do pais, o Sparta Praga. Logo que chegamos, fomos direto à loja do clube, que fica do lado de fora do estádio, muita coisa relacionada à boa campanha na Liga Europa (o Sparta tinha jogado no dia anterior contra a Internazionale, em Milão e avançado aos matas). Compras feitas (com direito a um pôster do ídolo Tomas Rosicky), demos uma volta em todo estádio e nenhuma porta aberta; voltamos até encontrar um senhor pro lado de dentro do portão, sentado. Explicamos que éramos brasileiros, estávamos muito querendo conhecer o estádio e tudo mais, até tirar a bandeira do Brasil da mochila (acreditem, essa bandeira abre portas, literalmente), o senhor apenas disse que não era pra demorar e tirar as fotos, conhecer e olhar o estádio por dentro. Sensacional! Agradecemos a gentileza e continuamos pelo lado de fora, que é bem legal do ponto de vista dos ultras, tem vários símbolos pintados na parede, seja em alusão as torcidas organizadas ou ao próprio clube, muito interessante pra quem gosta desse tipo de cultura. 
Entorno do estádio, na área da torcida do Sparta
Esse era pra ser o último passeio relacionado ao futebol no dia e na República Tcheca, já que iriamos embora no outro dia pela manhã, mas ao sairmos a noite pela cidade em busca de alguns souvenires pra levar de recordação, entramos em uma loja dentre inúmeras à beira da Ponte Carlos pra comprar uma camiseta, e ai tem aquela etapa da negociação com o dono, que joga o preço lá no alto e vamos pechinchando até um meio termo. O vendedor dessa loja fazia parte da organizada do Sparta. Ele nos chamou no fundo da loja e retirou debaixo do balcão alguns “apetrechos” usados em encontros de torcidas hooligans. Soco inglês, facas, cassetetes, alguns instrumentos que não fazíamos ideia do que eram, mas devia doer muito se apanhasse com aquilo! Ouvimos algumas sobre a rivalidade local, com o Slovan Bratislava e alguns clubes eslovacos, o medo da maioria das torcidas da região... Foi simplesmente fantástico.

A viagem seguiu para a Turquia, e semana que vem a gente continua. Fiquem ligados que vale a pena!

Imagens: divulgação
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