O nome Chan Yuen Ting pode até não chamar muita atenção aqui no Ocidente, mas vem dando o que falar em Hong Kong, região administrativa da China no sul da Ásia. Por quê? Chan é uma treinadora de 27 anos, a primeira a comandar um time profissional masculino no país, e conquistou o título nacional nesta sexta-feira com o Eastern.
O clube da área urbana de Kowloon venceu o South China por 2 a 1, fora de casa, e acabou com um jejum de 21 anos sem levar o campeonato de Hong Kong. E foi com uma rodada de antecedência, graças aos gols do brasileiro Giovane, ex-Atlético de Ibirama.
Chan assumiu o Eastern em dezembro, na metade da campanha. Já tinha a experiência de treinar nas categorias de base de outros clubes, e a chance máxima de aparecer para o sul asiático foi logo em um clube que vivia uma seca de títulos no principal campeonato de Hong Kong.
A treinadora jamais jogou futebol profissional e, além de ser a primeira mulher no comando de um time em Hong Kong, é também a mais jovem técnica na atual liga. "Me sinto abençoada por achar uma carreira naquilo que é minha paixão. Não esperava virar treinador antes dos 30 anos. Talvez fosse o destino", orgulha-se.
A juventude de Chan é aliada à tecnologia, essencial para levar a Premier League: "A estrutura é muito boa. Usamos sistemas de análises de jogos para ajudar a desenvolver nossas capacidades. Os atletas podem avaliar seus erros, aprimorar-se e melhorar", comenta.
A chance de assumir o comando do Eastern surgiu quando o então técnico pediu demissão para ser auxiliar em um time chinês. Chan, que era auxiliar, foi efetivada, e o começo não poderia ser melhor. Um mês e meio depois, o primeiro título veio com uma copa nacional. Era só o começo.
Chan após o título conquistado sobre o South China |
A taça que veio nesta sexta, porém, não esconde as inúmeras dificuldades que a jovem treinadora encarou para chegar até aqui. Um dos problemas ainda existe, e Chan diz ser muito difícil contorna-lo. "A diferença entre a mentalidade masculina e a mentalidade feminina é o único problema. É difícil compreender completamente a forma como os jogadores pensam. Além disso, nunca fui jogadora, o que pode dificultar a comunicação". Para driblar essas dificuldades, a solução, conforme Chan, é "manter uma mente aberta, prestar atenção no que os jogadores e os assistentes têm a dizer, tendo uma vasta gama de pontos de vista e opiniões".
Os feitos da técnica do Eastern, com dois títulos em cinco meses de carreira, servem ainda como exemplo. "Ela é um impulso para outras mulheres e para o futebol feminino, porque mostra que não há barreiras em nosso futebol", diz Mark Sutcliffe, diretor executivo da federação de futebol local.
Contra o South China, Giovane decidiu com dois gols |
Nesta sexta, o triunfo sobre o South China (treinado por Casemiro Mior) levou o Eastern a 38 pontos em 15 jogos. Festa para Chan e para os vários brasileiros do elenco: além de Giovane, há Diego Eli (ex-Esportivo-RS), Clayton (ex-Londrina), Michel Lugo (ex-União Frederiquense-RS) e Roberto (ex-Botafogo-SP, naturalizado por Hong Kong). A liga desta temporada tem 22 jogadores brasileiros.
Se o objetivo para o semestre foi alcançado, quais os próximos? Chan é clara. E sonha alto. "Gostaria de trabalhar em outros países asiáticos, com uma cultura forte no futebol, para ganhar uma maior exposição. Se você encontrou aquilo que é bom e tem paixão por fazer, não desista facilmente". Alguém ainda duvida?
Fotos: Eastern
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