Dois irmãos que realizavam o sonho de jogar futebol, mas que não enxergavam um grande futuro se continuassem suas rotinas. Um técnico erradicado nos Estados Unidos e que está há quase duas décadas por lá. Começamos assim a conhecer a curta história do The Villages Soccer Club, o clube mais brasileiro da liga de desenvolvimento do futebol norte-americano.
The Villages é uma região com 51 mil habitantes na Flórida que, desde o começo do ano, recebeu o clube homônimo, criado por Anderson da Silva, treinador brasileiro que vive nos EUA há 18 anos. O Villages SC disputa a PDL, liga semiprofissional composta grande parte por atletas universitários que estão de férias nos estudos, e que é a porta de entrada para campeonatos como a NASL e a MLS.
São 13 brasileiros no clube, sendo dez deles considerados titulares. Dois deles são os irmãos cariocas Cauê e Tauan Salgado, zagueiro e atacante, respectivamente. Ambos deixaram o Rio após não verem grande perspectiva no futebol brasileiro. "Com 19 anos, era titular da Portuguesa-RJ. Com 24, a mesma coisa. Eram quatro horas de ônibus todos os dias, sem nunca ter férias de verão, Carnaval. Chega uma hora que você não aguenta mais aquela rotina sem alcançar nada de volta. Aqui, poderia continuar meu sonho, em um nível técnico de competitividade um pouco menor, mas podendo conhecer o país, me graduar e ser fluente em inglês", comenta Cauê.
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| Cauê chegou a ser especulado no Vasco, mas acabou mesmo nos EUA |
Check out this nifty move by @TheVillagesSC's Pedro Dias before he scored the winner vs. @PBSUNSFC. #Path2Prohttps://t.co/ef3IUikgrd— USL PDL (@USLPDL) 4 de junho de 2016
O zagueiro estuda Jornalismo na Southeastearn University, sua equipe no futebol universitário. Aos 26 anos, sua carreira deu uma guinada quando, depois de um vídeo seu com melhores lances, ser observado por Anderson dos Santos.
Apesar de não ser um clube profissional, o Villages trata muito bem os seus atletas. Tanto que eles moram na residência oficial do prefeito da cidade. A comunidade também abraçou o time, comparecendo aos jogos e assistindo às partidas como visitante com telões em uma praça. Isso tudo para uma liga de desenvolvimento. "Quando ganhamos nosso primeiro jogo e entramos numa pizzaria mais tarde, o restaurante inteiro levantou e nos aplaudiu", relembra o carioca aos risos.
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| Público prestigiando o primeiro jogo do Villages em casa na temporada: vitória com gol brasileiro, de Pedro Ivo |
Mas o zagueiro que saiu de Niterói para a Flórida vê alguns pontos não tão bons assim: "A temporada universitária dura apenas quatro meses. No resto do tempo, você só treina e estuda, sem jogar. Quando joga, sua única experiência é contra outros 'alunos', não jogadores. O nível técnico do jogador americano é muito abaixo do brasileiro ou do europeu", avalia.
Para Cauê, o ideal seria uma mescla, que poderia ser implantada no Brasil. "O sistema que temos aqui, em que você não vira profissional se não for para a faculdade, poderia se somar à cultura do futebol sendo prioridade, praticado diariamente em alto nível desde pequeno, como é no Brasil".
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| Com gol do brasileiro Pedro Ivo, que tem passagem pela base do Vasco, Villages venceu no último fim de semana |
A maioria dos brasileiros do Villages (confira o elenco aqui) tem história semelhante à de Cauê: saíram cedo do Brasil rumo a tentar a sorte em um nível um pouco menor, mas com a chance de unir graduação, inglês e jogar um futebol que recebe cada vez mais investimento - prova disso é o recente Miami United, que chegou a contar com Adriano Imperador. O Villages está confiante em avançar na PDL, que começou há poucas semanas, como fez na Copa dos EUA, quando superou o Charleston Battery, da USL, fora de casa (mas acabou eliminado por escalação irregular posteriormente).
A esperança agora fica por conta de ser visto. "Todo mundo quer vir para cá. O americano sabe que o Brasil é sinônimo de futebol, e os brasileiros querem morar aqui. Querem jogar numa liga organizada, viver bem e se desacar. É o motivo de eu ter largado o futebol no Brasil e vir para o College", encerra o defensor. Na terra da oportunidade, jogar futebol é cada vez mais negócio.
Fotos: The Villages SC/Facebook
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