Uma nova independência para Guiné-Bissau


Por Mário Fontes (@fontesmario)

No último domingo, a seleção de Guiné-Bissau se classificou para a sua primeira Copa Africana de Nações (CAN) da história. Os guineenses passaram em um grupo que tinha a Zâmbia, que já venceu a competição em 2012, além do Congo, que ultimamente tem participado do torneio continental. A participação na primeira CAN deixou o país em clima de festa, assim como na sua independência.

"Este feito é como se fosse uma nova independência nacional. Esta alegria irá durar no tempo. Hoje é o melhor dia nos últimos 30 anos da Guiné-Bissau", disse o técnico da seleção, Romão do Santos. O país deixou o status de colônia de Portugal no dia 24 de setembro de 1973. Para o treinador, "todos os guineenses estão de parabéns", em momento em que o país volta a atravessar uma fase de tensão, fruto de uma crise política prolongada.


O presidente da Guiné-Bissau, Jose Mário Vaz, demitiu nove ministros do governo, e deu posse a Baciro Dja como novo primeiro-ministro, nove meses depois de o mesmo ter sido obrigado a renunciar ao cargo por imposição do Supremo Tribunal de Justiça. Entretanto, os membros do Executivo demitido continuam no Palácio do Governo sem sair, dizendo não reconhecerem o novo primeiro-ministro. Em meio à crise política que assola o país, a classificação para a CAN surge como um alento para os habitantes de Bissau.

Guiné-Bissau (de vermelho) venceu a Zâmbia com gol aos 96' para se classificar
Para se ter uma ideia do feito, o maior torneio internacional já disputado por Guiné-Bissau foi a distante Taça Amílcar Cabral, um troféu de futebol regional (participam alguns países da África Ocidental) - foi em 1983, e a seleção guineense foi derrotada na final por Senegal. Atualmente, os "djurtus" ocupam a 115ª colocação no ranking da Fifa.

Sem grandes nomes, a base da equipe é formada por atletas que atuam em clubes menores de Portugal. A facilidade da língua (na Guiné-Bissau se fala português) é um dos motivos da debandada de tantos atletas africanos para o país europeu. Com isso, alguns dos melhores valores nascidos no continente africano acabam alimentando a seleção portuguesa, como é o caso dos atacantes Ederzito, do Lille, e Yannick Djaló, ex-Sporting. Apesar disso, com uma ótima campanha, os guineenses conseguiram deixar para trás adversários tradicionais nas eliminatórias.

Festa nas ruas de Bissau após a classificação
A vaga veio após Quênia vencer o Congo por 2 a 1. A derrota dos congoleses - aliada a uma emocionante vitória de Guiné sobre a Zâmbia, com gol no sexto minuto de acréscimo - foi festejada de forma espontânea nas ruas de Bissau com diversas pessoas reunidas em grupos com bandeiras do país cantar em apoio à seleção. Os guineenses somam 10 pontos, contra seis de Congo e da Zâmbia e quatro do Quênia.

Na fase final do CAN2017, entre de 21 de janeiro a 12 de fevereiro, no Gabão, a Guiné-Bissau junta-se ao país anfitrião, à Argélia, Camarões, Egito, Marrocos, Zimbábue, Mali e ao Senegal. Quem sabe para alegrar ainda mais uma população tão acostumada a uma dura realidade.

Fotos: gbissau.com, media.today, O Democrata GB
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