Viagem de 15 mil km, gol de corredor e risco de sumir: o futebol (e a vida) em Tuvalu



Você que acompanha de perto o Non Sense Football deve ter visto que está rolando, na Inglaterra, a Copa do Mundo CONIFA, organização que compreende regiões, estados e nações que não possuem reconhecimento da FIFA. Dos 16 participantes, apenas um possui cadeira na Organização das Nações Unidas (ONU): o arquipélago de Tuvalu, na Polinésia. Quarto menor país do mundo, sua delegação viajou mais de 15 mil quilômetros para jogar o torneio. Algo que pode não acontecer mais em cerca de 50 anos... Porque o país pode desaparecer.

Mas vamos por partes. Tuvalu não tem, como você pode imaginar, um histórico dos mais grandiosos no futebol. A federação de futebol do país já tentou se filiar à FIFA, mas há um fator preponderante que, até hoje, impediu que a nação pudesse tentar a sorte nas eliminatórias para a Copa do Mundo: seu pequeno território. Tuvalu é um complexo de nove ilhas e atóis que, somados, resultam em cerca de dez mil habitantes. E não há espaço para encaixar campos de futebol aí. Ao menos não nos padrões exigidos pela FIFA.


Com essa realidade difícil, Tuvalu se filou apenas à Confederação de Futebol da Oceania (OFC, em inglês), e disputou, de maneira oficial, apenas algumas edições dos Jogos do Pacífico. O melhor desempenho faz já bastante tempo: chegou às quartas de final em 1979. A vaga no Mundial da CONIFA veio tardia, com o anúncio da desistência do vizinho Kiribati – outro grupo de ilhas da Polinésia.

À parte tudo isso, a delegação de Tuvalu viajou para o Mundial da CONIFA com altas esperanças – mesmo que fosse a sua estreia na disputa. O presidente da confederação, Soseala Tinilau, chegou a falar, antes do começo do torneio, em alcançar as semifinais. A realidade bateu na porta com três derrotas, 15 gols sofridos e só um marcado.

Na estreia, o físico pesou. Os tuvaleses levaram três gols no segundo tempo e perderam para Székely, região de húngaros na Romênia, por 4 a 0. Depois, veio o revés mais pesado: 8 a 0 para a Padania, região na Itália. A última partida foi a mais equilibrada. Tuvalu lutou até o fim com Matabeleland (parte do Zimbábue), mas levou um gol nos minutos finais, de pênalti, e sucumbiu por 3 a 1.


Neste jogo da rodada final, o gol solitário da campanha foi marcado pelo zagueiro Etimoni Timuani, que é muito mais do que um jogador de futebol. Timuani foi o único atleta de Tuvalu nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, ao competir nos 100 metros rasos (e ser eliminado na primeira bateria). Por sinal, foi o único país a enviar para o Rio apenas... Um atleta.

Mas não dá para dizer que todos os atletas tuvaleses são amadores. Há, por exemplo, Alopua Petoa, que tem no currículo passagem pelo Waitakere United, da Nova Zelândia. Maior artilheiro da seleção nacional, com oito gols, Petoa marcou nas duas históricas vitórias de Tuvalu sobre Nova Caledônia (vídeo abaixo) e Tonga, em dezembro passado, nos Mini Jogos do Pacífico, em Vanuatu. 




Até mesmo por esses triunfos, a seleção oceânica espera, no mínimo, ganhar algum dos jogos que restam na CONIFA. Sim, restam jogos, que definirão as posições entre 9º e 16º lugares. Depois disso, a realidade, aí sim, volta a bater na porta, com uma longa viagem de um dia pela frente. Para um país que, em 50 anos, pode sequer existir, devido ao aquecimento global – não há locais com mais de sete metros nas ilhas de Tuvalu, o que significa que, se o nível do oceano seguir subindo, o país será engolido pela água.

Enquanto isso, o futebol luta para deslanchar em um dos locais mais remotos do mundo, onde praticamente não há campos de futebol. Mas tem quem jogue futebol. É o mais importante.
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