Uma viagem pelo leste do futebol europeu - parte 4


No fim do ano passado, o nosso leitor Raúl Pereira Chiaradia, ao lado do irmão, partiu em uma viagem para conhecer o leste europeu, e o futebol foi parte integrante desta Eurotrip. Aqui no blog nós já acompanhamos o relato sobre as visitas à República Tcheca, Turquia, Kosovo e Macedônia. Agora é hora de a gente saber como foi o pulo na Albânia, nas palavras do Raúl:

Não sabemos exatamente como e quando começou o apreço pela Albânia, mas sempre gostamos da bandeira e, a partir daí, acompanhar os jogos da seleção e conhecer sobre o futebol local foi um pulo. A equipe assumida pelo italiano Giovani De Biasi em 2011 iniciou um processo de “garimpo” de jogadores com ascendência albanesa em toda a Europa, em busca de montar uma equipe de qualidade, ou que pelo menos não passasse vergonha a nível europeu ou mundial. 


Como todos sabem, esse trabalho deu frutos após quatro anos, culminando com a classificação dos Kuqezi para a primeira Eurocopa de sua história, com direito ainda a uma vitória na fase de grupos e jogo duro contra França e Suíça. Podemos dizer que nossa paixão pelo país explodiu mesmo naquele 22 de março de 2013, na partida contra a Noruega, em Oslo, quando a Albânia bateu os donos da casa por 1 a 0. A partir daquele momento, uma coisa era certa: demoraria o tempo que fosse, um dia iríamos chegar à Albânia e conhecer tudo de perto. E chegamos.

A passagem pelo país seria curta, então teríamos que aproveitar cada momento, por isso acordamos cedo (quase nem dormimos, na verdade) e já iniciamos a caminhada rumo ao Qemal Stafa, que, mesmo em obras, era o local sagrado da viagem. Chegando no estádio nos surpreendemos: não havia absolutamente nada mais, era só construção e máquinas; confesso que esperava encontrar pelo menos a arquitetura antiga do estádio sofrendo algumas pequenas reformas. O antigo e simpático Qemal Stafa dará local à Kombetare Arena, não só para o futebol, mas como a tendência atual, multiuso. 



O estádio fica localizado bem no centro da cidade mesmo, e bem próximo a ele, numa curta caminhada pode-se chegar ao outro importante estádio da cidade e do país, o Selman Stermassi, casa do KF Tirana e atualmente do Partizani (maiores rivais albaneses). Chegamos até a porta do estádio, mas não entramos pois já estávamos atrasados para o nosso melhor compromisso no país: o encontro com Arben Celiku, médico da seleção albanesa.


Projeto da Kombetare Arena
 Voltando um pouquinho no tempo para explicar. Há muito tempo estava jogando FM e precisava contratar membros para staff do meu time. Olhei na seleção albanesa e encontrei alguns, dentre eles Arben. Como se não bastasse a contratação virtual, comecei a pesquisar os nomes dos membros no Facebook, e encontrei o perfil dele lá; adicionei, expliquei para ele que só gostaria de acompanhar o trabalho dele (ainda estava na faculdade, mas com a intenção de ser ortopedista também) e que, assim como meu irmão, gostava muito da seleção albanesa. 


Belo almoço, muitas histórias e risadas com Arben

Ele foi bem solícito, sempre respondeu as mensagens e mantivemos contato sempre seja pelo Facebook ou pelo Whatsapp. Talvez a história mais legal foi quando o Hugo fez aniversário e ele pediu para o Shkelzen Gashi gravar uma mensagem para ele de aniversário, às vésperas da estreia na Euro em 2016, dentro da concentração da Albânia na França.

Encontramos com ele na porta do estádio Selman Stermassi e logo fomos almoçar. Passamos quase toda tarde no restaurante, acompanhado de muita comida e cerveja, histórias sobre a renovação da seleção, todo projeto realizado pelo De Biasi, bastidores (ficamos quase uma hora vendo fotos e ouvindo relatos só dos dias da seleção na França), a relação conturbada com o presidente da federação local (ele inclusive estava no restaurante, em um lugar mais afastado) até o recente desligamento da seleção, mas com a sensação de dever mais que cumprido. 

Esse talvez tenha sido o ponto mais alto da viagem, pois parecia que estávamos ali no dia a dia da seleção que criamos um grande carinho ao longo dos anos. Depois do almoço ainda ele nos levou praticamente por um tour por Tirana, mostrando o local da federação, os pontos principais da cidade e contanto muito sobre o país que vem crescendo numa velocidade absurda, depois de anos e anos praticamente afastado do resto do mundo. Arben foi realmente uma pessoa incrível pra gente na Albânia, pois não é toda pessoa que somente por meio de redes sociais ainda nos recebe como ele recebeu. 

Com o fim do primeiro dia, achávamos que a parte futebolística do país havia sido cumprida, dado o tempo na capital e toda experiência que tivemos. Nosso único passeio na manhã do segundo dia era o estádio do Tirana, agora para conhece-lo por dentro. Fomos até lá, pudemos entrar e conhecer direitinho. É um estádio pequeno, porém aconchegante, reformado há alguns anos e mais que suficiente para receber partidas locais e até alguns amistosos da seleção. 


Vista do Selman Stermassi
 Uma dica culinária: se um dia visitar o Selman Stermassi, não deixe de ir à pizzaria em frente, a Saporita; o Arben tinha nos indicado e não nos arrependemos de ter almoçado lá, tomando um chopp alemão e comendo a melhor pizza que já provamos na vida (sem exageros). A Albânia é um país muito barato para comer e beber bem, com pouco dinheiro você vai em restaurantes de muitas variedades.

Com isso, reservamos a parte da tarde para conhecermos mais do centro, ir na loja oficial da seleção e também no local onde eram printadas as camisas de jogo da seleção para levar a camisa que compramos pro nosso pai. E também dar uma corridinha no Lago Articifial, um lago próximo ao centro que foi planejado e local de encontro de muitas pessoas para uma caminhada, corrida ou passeio; o Arben tinha nos levado lá no dia anterior, e animei de fazer alguns quilômetros ali.

Vale lembrar que, na Albânia, o campeonato nacional ainda acontecia àquela altura do ano, com suas últimas rodadas antes da pausa de inverno. O Kukësi, que acabou campeão, era o líder no momento, e merecia destaque pelos brasileiros lá. Em 2015 chegaram alguns nomes conhecidos como Jean Carioca (ex-Botafogo e Ponte Preta), Erik Flores (ex-Flamengo), e ainda Felipe Moreira, Birungueta e Mateus Lima (hoje no Santos B). 


Na época que planejamos a viagem e traçamos os lugares, logo consegui entrar em contato com o Mateus, sobre como poderíamos encontrar o pessoal em Tirana para conversar, se isso era possível e tal. Ele foi bem atencioso também, explicou que o Kukësi, que é da cidade de Kukës, treina na grande Tirana, em Peje, e manda seus jogos na cidade natal. Porém, todos os jogadores moram em Tirana, mas com a sequência de jogos dificilmente conseguiria encontrar com alguém.

Quando comecei a correr em torno do lago, logo vi que havia uns caras uniformizados treinando também, com uma espécie de preparador os orientando. Aproximei-me e vi que os uniformes eram do Kukësi! Não deu outra, já fui logo falando pra eles: “Karioka, Brasil, Kukësi!!”, até perceberem que tinha um brasileiro ali que conhecia um dos jogadores que atuavam com ele. O Jean não estava, mas do outro lado da pista havia um brasileiro, Felipe Moreira, ele já veio conversar comigo, perguntou o que eu fazia ali, expliquei bem sucintamente sobre a nossa viagem, ele explicou que ali só estava quem não jogou todo jogo no dia anterior, combinamos de sair pra jantar mais tarde. Isso realmente foi muita sorte e não estava nos planos.



Jantar com Jean Carioca e Felipe Moreira

À noite encontramos com o Felipe e o Jean num restaurante no centro. Eles foram bem bacanas com a gente, conversamos bastante sobre a vida que eles levam na Albânia, falaram de tudo ali, da dificuldade de jogar em um país onde prevalece mais a força que propriamente a habilidade, a relação com os outros jogadores, diretores, o frio, a neve, planos pro futuro e muita história antiga também, uma noite muito legal, com muita resenha mesmo. O que achamos bem interessante foi que eles andavam na rua sem qualquer problema ou assédio, diferentemente do que passa um jogador famoso no Brasil. Ainda demos uma volta pelo centro, fomos a uma chocolateria (onde havia dois jogadores do Partizani na mesa ao lado, segundo eles) até ir embora. Ótima experiência também pra gente, eles foram muito legais e a gente mantém algum contato pelas redes sociais até hoje.

O sonho da Albânia se encerrava ali, era hora de dormir e de manhã pegar o voo rumo ao Báltico. Nossa próxima parada: Vilnius, na Lituânia!
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